Historia do Judô
As lutas marciais
fazem parte da cultura do Japão. Desde o século 14 com as mãos livres ou
armas brancas era importante recurso militar. O jiu-jitsu, surgido na China
no século 3º A.C., é praticado lá desde 1650. Mas, em 1865, começa na Terra do
Sol Nascente a chamada era Meiji, quando foi abolido o sistema feudal e os
valores ocidentais começaram
a influenciar os costumes nacionais. Nessa onda, o professor de educação física
Jigoro Kano, 22 anos, adapta o jiu-jitsu para ser usado como modalidade de
competição na educação de jovens.
Era 1882. Nascia o judô, assentado
nos conceitos Zen de serenidade, simplicidade e
fortalecimento do caráter. É considerado o jogo da cordialidade das lutas
marciais. O pequeno Kano que começara no esporte quatro anos antes para superar
a fragilidade física, funda o Instituto Kodokan, com nove alunos e 12 tatames
para ensinar sua criação.
Em 1887 o judô já
havia conquistado espaço bastante para quase tirar o jiu-jitsu de combate. A
entrada de Kano no COI, em 1909, foi o empurrão que faltava para o judô já
usado em treinamento de policiais franceses disseminar-se mundo afora. Em
1952 é fundada a confederação internacional. Quatro anos depois se realiza o
primeiro campeonato mundial e, enfim, o esporte torna-se olímpico em Tóquio-64,
para homens, e em Barcelona-92, para mulheres. Hoje é praticado por pelo menos
180 nações.
No Brasil, foi
apresentado em 1915 pelo imigrante japonês Mitsuyo Maeda, apelidado Conde Koma,
e os adeptos que reunira em suas excursões pela América do Sul. Koma e sua
equipe ficaram conhecidos, passaram a promover apresentações, nas quais
aceitavam desafios de qualquer pessoa. Esses eventos, especialmente em Manaus e
Belém, foram a melhor difusão do esporte no país. São Paulo, sede da maior
colônia japonesa no Brasil, deu-lhe a melhor acolhida e, por isso, é ainda hoje
o melhor celeiro de judocas nacionais.
A rápida
aceitação mundial exigiu ao longo dos anos mudanças de regras e de princípios.
O equilíbrio físico e emocional continuou, porém, a ser o principal golpe,
que se acreditava dar ao lutador a chance de vencer apenas com a força do
adversário, ainda que ele fosse maior, mais alto e mais forte. A crença caiu
por terra no campeonato mundial de 1961, no Japão, diante da descomunal força
do holandês Antonius Geensik, de 115kg, que derrotou, sem contestação, três
japoneses favoritos para ser campeão. O judô rende-se e adota categorias de
peso. Hoje sete delas são disputadas nas Olimpíadas.
Muitas outras
alterações já tinham ocorrido, como a dos quimonos, que evoluíram para o
desenho atual entre 1905 e 1908. Antes, eles tinham mangas e calças curtas.
Pela origem arraigada na tradição, qualquer novidade, por mais insignificante
que se julgue, gera polêmica. Como a que o esporte enfrenta neste momento pela
recente adoção do uniforme azul para um dos contendores. Antes ambos os
lutadores usavam somente brancos.
Sua Filosofia
A palavra japonesa "Judô" é a
junção dos ideogramas "Ju", suave, e "Do", caminho. Há nove
princípios que compõem o Espírito do Judô, eles mostram a maneira de percorrer
o "suave caminho" fundamento para o estudo e compreensão progresso do
judô.
1) Conhecer-se é
dominar-se, e dominar-se é triunfar.
Para conhecer suas possibilidades no mundo em que vive, para enfrentar todas as
situações que exigem ações e soluções diretas ou indiretas, o homem precisa
conhecer a si mesmo, saber quais as qualidades e deficiências que possui, para
apresentar harmoniosamente as atitudes ou respostas mais adequadas à
necessidade. Na posse íntima desse balanço o homem adquire um melhor controle
emocional, uma melhor postura frente ao mundo e uma melhor e mais inteligente
utilização de seu potencial. Tudo isso lhe dá maiores possibilidade de
triunfar.
2) Quem teme perder já
está vencido
O Kiai é definido também como um estado de espírito para vencer, portanto está
intimamente ligado a este segundo princípio. Quando, inversamente, entramos em
uma disputa incertos, inseguros ou temerosos, nossas forças se desassociam e
enfraquecem, colocando-nos à mercê daquele ou daqueles que buscam com mais
garra - com mais Kiai - o triunfo.
3) Somente se aproxima
da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade.
A perfeição é de Deus: somente ele é perfeito. O homem pode e deve, entretanto,
tentar sempre se aproximar da perfeição em todas as suas obras e durante toda a
sua vida. Assim fazendo com constância, sabedoria e humildade, estará também
contribuindo para que o mundo seja mais bonito, mais humano e feliz. Estará
trabalhando, portanto, para a complementação desse mundo que nos foi dado e
pelo qual somos responsáveis.
4) Quando verificares
com tristeza que nada sabes, terás feito teu primeiro progresso no aprendizado.
Tantos são os mistérios do mundo, tão incipientes são os nossos conhecimentos
que considerarmo-nos sábios, ainda que em uma única e simples matéria, seria no
mínimo uma enorme ignorância. Isto porque, na medida em que nos aprofundamos no
conhecimento de um determinado assunto, vemos que a meta final se distancia e
se ramifica em tantas outras opções - nem sempre coerentes, muitas vezes
contraditórias - que somos levados a reconhecer com tristeza que nada ou muito
pouco sabemos, que a meta final não se encontra ao nosso alcance.
5)
Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário. Quem vence este hoje poderá
derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a
própria ignorância.
O orgulho jamais se justifica, porque ninguém é Deus para ter certeza da
vitória na próxima luta. A atitude orgulhosa nunca nos leva a boas opções -
muito pelo contrário. Como antítese da humildade, o orgulho nos torna
arrogantes, soberbos e auto-suficientes, criando à nossa volta um clima hostil.
Nem a própria vitória contra a ignorância justificaria o orgulho, pois o saber
deve ser um instrumento de realizações para a coletividade e a ela oferecido. A
vitória não é propriedade privada nem de uso exclusivo de alguém.
6) O judoka não se
aperfeiçoa para lutar. Luta para se aperfeiçoar.
Fosse a meta primeira e única do judoka a vitória em cima do tatame, então sim
ela voltaria toda a sua capacidade, todo o seu aperfeiçoamento para essa luta.
Mas isso iria tornar o esporte igual a tantas outras lutas, pobres e sem
motivos ou ideais duradouros e úteis. Felizmente, as metas do Judô são
justamente mais importantes porque visa, um mundo melhor, mais bonito, mais
humano e feliz esse é o ideal que buscamos.
7)
O judoka é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam e
paciência para ensinar o que aprendeu aos seus companheiros.
À inteligência que deve ter o judoka para compreender aquilo que lhe ensinam,
acrescentamos a perseverança e humildade. Perseverança porque nem sempre
possuímos a facilidade no aprendizado, e a demora pode nos levar a abandonar ou
negligenciar conhecimentos que nos farão falta. Um pouco de perseverança
possibilitará sempre bom aprendizado. Humildade porque sem ela podemos achar
que somos sábios e do alto da nossa suficiência não desceremos para aprender o
que não sabemos. No transcorrer da vida, há uma seleção natural que escolhe os
que transmitirão ensinamentos para as gerações futuras. Assim é no Judô. Aquele
que teve a paciência para perseverar durante anos, acumulando conhecimentos e
experiências, certamente terá em grande dose a paciência necessária para o
ensino do que aprendeu, contribuindo assim para que a grande arte caminhe para
o futuro.
8)
Saber cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, é o caminho do
verdadeiro judoka.
Nos mais corriqueiros atos da vida o homem aprende sempre um pouco mais, pois
ele é um ser dinâmico e evolutivo. É significativo o fato de que a maioria dos
governantes é de pessoas idosas, mesmo entre os povos mais díspares e em
diferentes épocas da História. Isso se explica porque a soma de conhecimentos,
o melhor controle emocional e a experiência acumulada durante os anos suplantam
o arrojo e o vigor físico dos jovens. Quanto a usar esses conhecimentos para o
bem, é uma questão de princípios, inerente ao homem de bem e ao judoka
principalmente.
9)
Praticar o Judo e educar a mente a pensar com velocidade e exatidão, bem como
ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo é uma arma cuja eficiência
depende da precisão com que se usa a inteligência.
Quanto mais acumulamos experiência na prática do Judo e nos aprofundamos em sua
filosofia mais fascinante ele se torna, dada a sua abrangente diversidade de
valores físicos, morais, intelectuais e espirituais. Essa progressão educa a
mente, nos ensina a pensar com velocidade e exatidão, e ensina o corpo a
obedecer com precisão.
Esses são os nove princípios que marcam os caminhos do progresso e do
aprofundamento no conhecimento e prática do Judo. A eles devem os judokas a sua
atenção, obediência e zelo.
Fonte: Sensei (Kodansha) Stanlei
Virgilio (A Arte do Judo, Ed. Rígel)